Louca, alucinada e criança

A gente vê Drew Barrymore fazendo comédia romântica aguinha com açúcar e esquece que ela foi a maior mini maníaca da História Mundial.

Há quatro anos, conheci uma mulher e, lá pras tantas, ela me disse “que judiação essa alma de 60 anos aprisionada nesse corpo de 23”. Ela estava falando sobre mim. Imagino o que ela diria pra Drew Barrymore aos 7. Não apenas ela era ultra articulada como usava uma CHAPA pra dar entrevista nos programas de TV. Não apenas ela usava uma chapa pra dar entrevista nos programas de TV como ARRANCAVA a chapa no meio da entrevista. Uma Dercy Gonçalves num corpinho infantil.

Drew deve ser daquelas almas Benjamin Button, que nascem velhas e vão rejuvenescendo com o tempo. Aos 13, ela tinha uns 40 anos: já tinha sido alcoólatra, coicainômana e estava saindo da rehab. E obviamente já tinha preparado várias words of wisdom pra aconselhar os mais velhos.

Pra quem tá achando que é uma história de superação, que ela conseguiu dar a volta por cima etc. e tal, eu digo: não, ela não largou as drogas. Teve a terceira recaída com Adam Sandler: Blended estreia no ano que vem.

She needs help she needs help she needs help she needs heeeeelp


Na semana passada terminou o IV Janela de Cinema do Recife. Segundo relatos confiáveis, é o melhor festival de cinema do mundo, depois de Cannes. Eu nunca estive lá, mas um festival que traz uma retrospectiva Kubrick em película merece ser respeitado.

Acompanhei pelo FEICE o alvoroço dos amigos indo ver uma cópia rara de O Iluminado (“com trinta minutos a mais!”). Aí alguém postou uma das 37 imagens clássicas do filme:

E a pergunta veio: que fim levou Shelley Duvall? Ela era uma das musas da minha infância (depois dessa informação minha analista finalmente entendeu o caso grave que eu era). Muito antes de eu saber da existência de O Iluminado, ela já me assustava apresentando Contos de Fada na TV Cultura. Além disso, acho que eu era a única criança que realmente gostava da versão de Robert Altman pra Popeye, de onde saiu esse clássico do cancioneiro popular:


Aliás, a estreia dela no cinema foi com Robert Altman, em Voar é com os Pássaros. O segundo filme dela foi com Robert Altman. O terceiro filme dela foi com… Robert Altman. O quarto filme dela, adivinha com quem foi? Robert Altman. O quinto filme dela, alguém arrisca com quem foi? Robert Altman! Agora o sexto filme que ela fez foi com um diretor genial chamado

ROBERT ALTMAN.

Mas antes que vocês achem que ela era uma loser completa e só Robert Altman queria trabalhar com ela, saibam que por esse sexto filme, Três Mulheres, ela ganhou Melhor Atriz no Festival de Cannes, OK? E aí ela DESPONTOU PARA O ESTRELATO, e o sétimo e o oitavo filmes dela foram Noivo Neurótico, Noiva Nervosa e O Iluminado. O nono filme foi de novo com Robert Altman, justamente Popeye, e aí acho que ele traumatizou com Olívia Palito e nunca mais chamou a coitada pra trabalhar de novo com ele.

Depois disso ela não fez mais nada digno de nota (à exceção desse curta-metragem de Tim Burton). Em 2002, viu que a vida não estava sendo fácil e decidiu se aposentar. Foi-se embora de vez morar na beira duma estrada no fim do mundo (aka Blanco, Texas) mas ainda com esperança de que a chamassem pra fazer alguma coisa. Só que 2012 veio seis anos antes pra ela: Robert Altman morreu. Era o fim da aventura humana na Terra.

Na Terra, eu disse. Shelley Duvall não é brasileira, mas também não desiste nunca. Não tá rolando aqui na Terra, vamo simbora procurar no espaço sideral. Segundo aquele jornal bem confiável, o National Enquirer, ela fica toda noite piscando o farol do carro, tentando se comunicar com alienígenas. E acredita que um buraco no quintal dela é um portal pra outra dimensão. Ainda segundo o Enquirer, ela passa dia e noite morrendo de medo que algum ET venha buscá-la; ou seja, ela é igual a eu, você e todos nós: não sabe o que quer. Vocês podem achar que ela é doida, mas eu acho digno esse final de carreira. Triste mesmo seria ela ir no programa da Sônia Abrão pedir emprego.

Depoimento de um vizinho: “Shelley fica vagando sozinha pela cidade, toda malamanhada, estranha e, pra ser franco, bem louca. Fica murmurando uns negócios e falando que tem um monte de alien dentro do corpo dela“. Ou seje, já que ninguém chama ela pra fazer nada, ela resolveu fazer teatro de rua, essa deve ser a continuação de O Iluminado.

Como o National Enquirer é um jornal sério, ele só ouviu os vizinhos. A primeira entrevista que Shelley Duvall deu em mais de dez anos foi pra um site horroroso, mas que tem umas entrevistas ótimas com atores e diretores de filmes B, chamado Mondo-Video. Trechinhos da entrevista:

Shelley, que tipo de criança você era?

Nossa, eu era um terror! Eu saía correndo pela casa derrubando tudo, mesa, cadeira, o que eu via pela frente. Minha mãe me deu o apelido de MANIC MOUSE. Na época eu não entendi, mas anos depois a gente riu muito disso.

Eu li na internet que alguém próximo de você disse recentemente que achava que você tinha se tornado meio “reclusa”. Como você se sente sabendo disso, e o que você tem a dizer sobre?

Eu não diria que eu me tornei reclusa, se você googlar o significado parece muito pior! Eu apenas tirei um tempo pra mim. Eu atuei durante mais de 35 anos, isso desgasta muito. Eu precisava de um tempo pra mim, e eu tenho adorado isso! As pessoas acham que eu me isolei, que nunca saio de casa e não me comunico com o mundo lá fora, isso não é verdade. Um amigo me botou no Facebook e é incrível a quantidade de gente que se comunica comigo, fãs do mundo todo. É ótimo falar com todo mundo, saber que as pessoas ainda apreciam e amam seu trabalho é um puta astral!

Sou reclusa não, tô no feice!

Não achei o feice dela, tudo me pareceu ser fake. Mandei um e-mail pro Justin Bozung, que fez essa entrevista com ela (JORNALISMO INVESTIGATIVO), e ele disse que ela era ótima, que manteve contato com ela um tempo, mas aí o computador dele deu pau e ele perdeu o telefone dela. Ah, e ela TROCOU DE E-MAIL. Super sociável.

Eu acho uma pena que ninguém chame Shelley pra trabalhar, acho ela genial. Acho que hoje em dia não tem mais diretor com culhão de chamar uma mulher tão doida pra fazer filme. Talvez Tim Burton, mas ele já tem que dar conta de Helena Bonham Carter. Ou Lars von Trier, mas esse aí só quer filmar cas gostosa. Fica aqui o apelo. Shelley, seu nome jamais será esquecido. Ainda mais com você nos ajudando assim:


Musas B

Ainda na esteira de A Mão que Balança o Berço

Apesar de achar Rebecca De Mornay musa inconteste, sei que ela é uma musa classe C (embora não tenha usufruído dos avanços conquistados no Governo Lula). A coitada teve dois únicos sucessos na vida: A Mão… e Negócio Arriscado, sendo que esse foi em MIL NOVECENTOS E OITENTA E TRÊS. E ela só fez A Mão que Balança o Berço porque não passou no teste pra fazer Sininho em Hook – A Volta do Capitão Gancho e aí ficou revoltada, xingou muito no twitter da época e resolveu fazer uma coisa mais dark (viva o trivia do imdb!).

Mas esse não é um post sobre Rebecca De Mornay, nem sobre musas classe C. Hoje nós famos falar das musas classe B, que são aquelas que quaaaaaaaase chegaram lá mas aí não rolou. O máximo que elas conseguiram foi que o locutor da Globo falasse bem sério o nome delas anunciando a atração do Supercine. Até hoje espero um estudo estatístico mostrando quantos décimos de Ibope um filme ganha quando o locutor avisa “filme tal, COM MARY ELIZABETH MASTRANTONIO” – podem notar que ele pronuncia o nome dela com gosto, mas deve ser a única pessoa no Brasil que falou esse nome em voz alta alguma vez na vida. Mas ninguém pode dizer que ela não tentou. E tentou bastante: fez filme com Brian De Palma (Scarface), com Scorsese (A Cor do Dinheiro), com James Cameron (O Segredo do Abismo). Tentou e achou que tinha finalmente conseguido quando fez a mocinha de Robin Hood – O Príncipe dos Ladrões, estrelando Kevin Costner e Christian Slater. Kevin Costner e Christian Slater. Juntos. No mesmo filme. E ela achava que ia dar certo. Bem, não deu.

Mas talvez, talvez, o problema de Mary Elizabeth Mastrantonio tenha sido bem anterior. Porque me parece que há uma maldição dos nomes triplos em Hollywood. Senão vejamos.

Mary Stuart Masterson. Fez filme com Sean Penn, com Johnny Depp, fez aquele filme bem simpático da Sessão da Tarde chamado Alguém Muito Especial (aquele que parecia que ela era uma baterista sapatão mas na verdade tava a fim do Eric Stoltz), e fez Tomates Verdes Fritos com a amiguinha Mary Louise Parker – amiguinha essa que só fugiu do ostracismo reservado às mulheres de nome artístico triplo porque teve a sorte de aparecer Weeds pra salvar a carreira dela (weeds, carreira, rs). O fato é que Mary Stuart Masterson se fudeu também, e além de se fuder fez par romântico com Christian Slater pra se certificar de que jamais teria seu nome na calçada da fama.

A próxima da lista dá pena mesmo porque foi NA TRAVE:

Jennifer Jason Leigh. Ela fez Picardias Estudantis, fez filme com os irmãos Coen (Na Roda da Fortuna), Cronenberg (eXistenZ), Charlie Kaufman (Sinédoque, Nova York), DOIS filmes com Robert Altman (Shortcuts e Kansas City), foi a própria Mulher Solteira Procura, dirigiu filme indie (Aniversário de Casamento) e é amiga íntima de Paul Thomas Anderson. Mas não rolou até agora e acho bem difícil que role, viu, Jennifer. Porque você é bem doida, recusou fazer O Silêncio dos Inocentes pra fazer Cortina de Fogo (contracenando com Rebecca De Mornay, essa galera se atrai). Recusou fazer Taxi Driver, Clube dos Cinco, sexo mentiras e videotape, Uma Linda Mulher, E RECUSOU O PAPEL DE JULIANNE MOORE EM BOOGIE NIGHTS. Ou seja: você não aconteceu porque não quis, então fique aí reinando entre as musas B.

Se eu quisesse realmente fazer uma tese sobre nomes artísticos femininos triplos que flopam, poderia versar sobre Penelope Ann Miller, Deborah Kara Unger, Lara Flynn Boyle, Joey Lauren Adams. Mas aí vocês iam vir com Catherine Zeta-Jones, Sarah Jessica Parker e, sei lá, Anna Nicole Smith. E meu foco é outro: as musas quase, ou quase musas.

Então vou terminar com uma que tem dois nomes só, é uma das mulheres mais lindas do mundo (eu acho, ok???), tem cara de rica, é boa atriz, fez parzinho com Daniel Day-Lewis em O Último dos Moicanos, fez Short Cuts, 12 Macacos, e ainda assim não aconteceu nem virou manchete. Madeleine Stowe, você merecia.

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