Louca, alucinada e criança

A gente vê Drew Barrymore fazendo comédia romântica aguinha com açúcar e esquece que ela foi a maior mini maníaca da História Mundial.

Há quatro anos, conheci uma mulher e, lá pras tantas, ela me disse “que judiação essa alma de 60 anos aprisionada nesse corpo de 23”. Ela estava falando sobre mim. Imagino o que ela diria pra Drew Barrymore aos 7. Não apenas ela era ultra articulada como usava uma CHAPA pra dar entrevista nos programas de TV. Não apenas ela usava uma chapa pra dar entrevista nos programas de TV como ARRANCAVA a chapa no meio da entrevista. Uma Dercy Gonçalves num corpinho infantil.

Drew deve ser daquelas almas Benjamin Button, que nascem velhas e vão rejuvenescendo com o tempo. Aos 13, ela tinha uns 40 anos: já tinha sido alcoólatra, coicainômana e estava saindo da rehab. E obviamente já tinha preparado várias words of wisdom pra aconselhar os mais velhos.

Pra quem tá achando que é uma história de superação, que ela conseguiu dar a volta por cima etc. e tal, eu digo: não, ela não largou as drogas. Teve a terceira recaída com Adam Sandler: Blended estreia no ano que vem.

Entrevista – KMF

Foto de Leonardo Lara

Kleber Mendonça Filho é ex-crítico de cinema, trabalhou durante mais de uma década no Jornal do Commercio de Recife. Aposentou-se da crítica para se dedicar ao seu trabalho como cineasta. Depois de realizar sete curtas-metragens que ganharam mais de 100 prêmios no Brasil e no mundo, vai lançar este ano seu primeiro longa-metragem de ficção, O Som ao Redor, já visto nos festivais de Roterdã (onde ganhou o prêmio FIPRESCI), Copenhagen (prêmio New Talent Grand PIX), na mostra New Directors/New Films em Nova York e no IndieLISBOA.

Lembro que conheci Kleber quando eu tinha 12 anos: mandei um e-mail desaforado pra ele porque ele tinha trocado o nome de uma atriz do elenco de apoio de um filme B (eu era um pré-adolescente muito estranho). Kleber também foi responsável por eu conhecer alguns dos melhores amigos que tenho em Recife, oriundos de um curso que ele ministrou chamado O Olhar Crítico. Era um curso tão bom que teve gente que deixou de ser agrônomo pra virar diretor de fotografia (muito bom, por sinal).

Uma vez por ano, Kleber sai da aposentadoria crítica para cobrir o Festival de Cannes. A edição 2012 do festival já rendeu alguns textos para o blog especial de Cannes da Revista Continente, onde Kleber está escrevendo atualmente. Para comemorar essa volta às origens, posto aqui, diretamente do fundo do baú do meu HD externo, esta entrevista que fala quase que exclusivamente do exercício da crítica cinematográfica, da rotina de um crítico de um jornal. Foi feita há quatro anos (mas nunca publicada ou postada) junto com Rodrigo Almeida, jornalista da Folha de Pernambuco e do blog Velhos Hábitos. Era o auge do fenômeno de Batman – O Cavaleiro das Trevas. Eu, Rodrigo e Kleber nos encontramos no Café Castigliani, que fica em frente ao Cinema da Fundação Joaquim Nabuco, sala da qual Kleber é programador.

O seu olhar mudou de quando você apenas gostava muito de cinema para quando você começou a escrever profissionalmente?

Meu olhar… não sei, cara. Eu não sei responder a essa pergunta. O meu olhar mudou? Não sei, não é uma coisa tão científica assim. A obrigação a princípio não é boa. Essa semana foi até tranquila porque teve Nome Próprio e Arquivo X. Mas tem semana que são cinco filmes. Eu começo a não gostar muito da atividade, embora eu não ache que isso necessariamente interfira [na qualidade do texto]. Às vezes até tem uma semana que tudo que você escreve é ruim. Mas tem outras semanas que o resultado não reflete o mal estar, no final termina sendo um fato positivo. Às vezes parece uma obrigação um pouco vazia você ter que, quase como um game, escrever qualquer coisa sobre cinco ou seis filmes e dois desses filmes não dizem absolutamente nada – e o jornal diz que tem que ter 30 linhas. No final você termina indo buscar o filme lá dentro, arranja um jogo de palavras e funciona. Arquivo X, por exemplo, é uma série que eu acompanhava há 13 anos, eu nunca levei a sério a série, mas achava divertido assistir, e aí é fácil quando uma obra tem uma história, um histórico. Era uma série que botava pra fora os medos bem jecas americanos, medo de extraterrestre, medo de estrangeiro, de quem tá fora, assassino em série… Aí isso vira meio que um marco da cultura pop. Tentam fazer um filme. Dez anos depois fazem outro filme, só que com metade do orçamento do primeiro filme, já completamente desprestigiado. O resultado final é um filme bem simples, e eu gostei disso, é exatamente o oposto do Batman [Cavaleiro das Trevas]. Batman é apresentado como a coisa mais impressionante do universo e Arquivo X vem mansinho assim, não é muito bom, mas também não é ruim, aí você tem alguma coisa pra escrever, você junta vários elementos e… e aí me agrada, acho que faz parte do trabalho.

A série Arquivo X você acompanhou. E quando o filme é adaptado de uma obra que você não tinha conhecimento prévio, mas você tem que escrever sobre ele?

Eu tenho uma grande lacuna na minha bagagem, eu não tenho nenhuma experiência com história em quadrinho. Então os filmes que eu vejo, eu realmente olho pra eles de maneira bem fria e distante, mas querendo ver um bom filme. Na minha cabeça, o filme tem que se sustentar por si mesmo. Eu acho que muita gente, em relação a histórias em quadrinho, não trabalha com isso, eles pegam toda uma bagagem de vida e ainda arremessam em cima do filme…

E em cima de quem escreve sobre o filme…

E em cima de quem escreve sobre o filme [risos]. Isso não significa que eu não goste de filmes baseados em HQs, eu já vi filmes excelentes, mas talvez a relação seja um pouco diferente, um pouco mais fria. Tem uma menina descansando ali no pé da escada, que imagem estranha… Então o grande exercício é esse, você tentar comentar a cultura em obras que às vezes não rendem tanta coisa.

Ficar preso à agenda de lançamentos te incomoda?

Claro.

Tem vontade de escrever sobre coisas fora dessa agenda?

Claro que sim. Por exemplo, tem uma distribuidora de DVD agora, a Lume. Esse mês eles estão com três lançamentos incríveis. Vá e VejaO Conformista e um filme que nunca passou no Brasil comercialmente, Sozinho Contra Todos, de Gaspar Noé. Eu adoraria abandonar uma semana normal e de repente escrever sobre isso. O jornal achou ruim eu não ter ido ver Micos no Espaço. Era uma sessão ao meio-dia no sábado. De repente é um filme engraçado, mas eu realmente não coloquei na lista de prioridades ver Micos no Espaço no sábado à tarde.

Essa obrigação de ter que ver esse tipo de filme…

Eu acho que o problema principal não é ter que ver, tudo bem, às vezes dá um pânico de ver A Princesa Ninja… A Princesa Didi… Ninja… Eu acho que eu até tenho ânimo de ver, o desânimo é de escrever sobre. Eu queria ver Micos no Espaço. Mas eu tava em Garanhuns, terminei não indo. O problema, às vezes, é ter o que escrever. Mas isso é tudo um desabafo vazio porque, na verdade, eu termino fazendo e sai. Faz parte do trabalho.

Mas de que forma sai?

Sai… é como eu falei, às vezes não sai bem, às vezes sai bem. Às vezes você quer que durante o dia o jornal seja recolhido o mais rápido possível, às vezes você gosta do que você escreveu, às vezes você escreve uma versão melhorada no blog ou no site. Olhando para a trajetória do critico, é importante que ele tenha pelo menos uma média boa. Eu acho que as eventuais falhas e quedas de qualidade podem ser perdoadas se ele tem uma média de credibilidade, de ideias legais, engraçadas, inteligentes que digam alguma coisa a alguém. Às vezes eu recebo coisas em cima da hora pra escrever às três da tarde e entregar às quatro, uma coisa que não estava planejada. E às vezes sai até um bom texto, melhor do que um que você começou a escrever quarta à noite, passou quinta de manhã escrevendo e terminou não funcionando. Às vezes o tempo é determinante, mas não sempre. O trabalho em Cannes tem muito essa coisa do tempo e eu sempre gosto muito do que eu faço em Cannes. Não sei se é uma coisa só minha mesmo, mas eu gosto do trabalho que é feito lá.

Às vezes você tem necessidade de ver um filme de novo, né? Já vi críticas diferentes, uma versão “Cannes” e uma versão quando o filme entra em cartaz.

Não significa que sempre aquele filme vai ressurgir das cinzas, às vezes eu tenho a mesma opinião. Às vezes um filme que eu não gostei em Cannes eu depois gosto, às vezes um filme que eu gostei em Cannes eu depois não gosto. São três tipos de filme: o que fica, e os que são negados positivamente ou negativamente.

Quando você começou a escrever no jornal, só tinha o e-mail como meio de comunicação entre você e o leitor. Agora existem grupos, comunidades, twitter, comentários de blog. Mas eu não vejo uma grande paciência sua em participar dessas discussões.

Paciência e tempo também, eu acho. Eu não tenho muita paciência pra, por exemplo, ir pra um debate. Eu adoro ir pra um debate: eu coloco minha opinião, a outra pessoa coloca a opinião e eu concordo. Mas ao mesmo tempo se a pessoa detestou o filme e eu gostei do filme, eu concordo, só que eu continuo gostando do filme. Eu não gosto quando os debates viram uma batalha. Eu não tenho paciência pra isso, eu não tenho paciência pra ficar discutindo. Eu acho que todo mundo tem opinião, é interessante saber o que as pessoas acham sobre o filme mas, quando você começa a responder demais, eu acho que começa a ficar estranho. Começa a ficar um pouco ridículo, na verdade. Porque a coisa pode render, né? Ninguém vai chegar em canto nenhum, na verdade. É feito essas mesas que me chamam às vezes pra participar. Parece um teatro. Você tem dez minutos pra falar, o outro tem dez minutos pra falar, o outro tem dez minutos pra falar. Aí o mediador fala qualquer coisa durante dez minutos. “Vamos abrir agora pro público”, aí o público faz duas perguntas e acaba o tempo. Eu viajei, peguei um avião pra falar dez minutos, pra ouvir os outros falando 40 minutos e pra ouvir o público fazendo duas perguntas. Aí eu vou embora. Aí depois tem o coquetel. Aí você bebe… é um teatro, faz parte, mas eu não tenho que necessariamente gostar disso.

E você não gosta.

Não, eu não gosto, mas eu gosto de entender, por exemplo… no texto do Batman, eu gosto de ver a resposta das pessoas, positivas ou negativas. Tem umas que são positivas bobas e tem outras que são positivas inteligentes, tem as negativas bobas e as negativas inteligentes. Aí você vai fazendo uma média interessante do retorno que você tem. Porque se um cara completamente imbecil te elogia você fica um pouco preocupado [risos]. Acho que é um pouco como na reação com os filmes também: chega alguém claramente idiota e diz “porra, Vinil Verde é hilário”, aí você “obrigado… a ideia não era bem essa, mas…”. Acho mais interessante um cara que não gostou [do filme] passar dez minutos tentando lhe dizer por que ele não gostou. Mas claro que é importante ter um retorno.

Qual é o papel da crítica, se é que existe algum?

O papel da crítica é levar alguém a descobrir um filme. Obviamente isso não se aplica tanto a Batman ou Arquivo X, um filme tão anunciado, que todo mundo vai ver mesmo sem saber porque está indo. Eu acho que é um pouco como o trabalho de curadoria num cinema ou num festival, você trazer algo que de outa maneira não passaria; as pessoas vêm e elas entendem que, se não fosse aquele trabalho, elas não teriam acesso àquilo. E a crítica pode fazer isso. Isso, pra mim, é o trabalho da crítica: é você levantar uma bandeira e dizer “aqui, dá uma olhada nisso”.

E quando o filme não é bom?

Quando o filme não é bom, o cara continua querendo ver o filme. “O filme não é bom, mas ele me deixou curioso pra ver esse filme”. Aconteceu muito com o filme do Michael Bay, Bad Boys 2, que é inacreditável. É um filme que quem gosta de cinema precisa ver pra acreditar que aquele filme existe. Isso é uma coisa boa. Eu detesto quando alguém chega e diz “pô, foi bom ler o que você escreveu porque economizei meu dinheiro”. Eu digo: “não, tá errado, você não entendeu nada. Aquela crítica que diz “fica em casa” eu acho horrível. Quem é você pra mandar alguém ficar em casa? É o crítico que acha que é consultor de final de semana. Ele acha que tá ajudando você a economizar seu dinheiro, acho péssimo isso. Uma coisa muito incompreendida no texto do Batman, pelas pessoas que tão apaixonadas pelo universo do Batman, é “ah, não, esse cara tá querendo ser diferente”. Mas não é isso. O filme pra mim não é nada, é apenas um filme comercial competente. Eu estava pensando essa semana inteira no sucesso do filme em termos de números e bilheteria. O filme é o número 1 [no ranking de melhores filmes] do IMDb atualmente. Mais de 100 mil pessoas já disseram que o filme é nota 10. Eu fico muito preocupado com isso porque esse filme não é nota 10… Bom, como provar, não é? Não existe matemática no cinema.

É uma histeria coletiva.

É uma histeria coletiva muito preocupante, porque você pega um filme como Death Proof, do Tarantino, aquilo é um filme perfeito, tá entendendo? Mas a maioria das pessoas não gosta do filme, metade acha o filme ruim, acha chato. Aquele é um filme perfeito! O filme do Batman é convencional em todos os aspectos. Tem até cena que não vai nem vem e é um filme que é considerado a perfeição. Ele é oficialmente, hoje em dia, a perfeição. Numero 1 no imdb. Eu acho muito estranha essa unanimidade.

Algum tempo atrás, uma crítica sua de um longa brasileiro gerou uma certa polêmica com os realizadores do filme. Isso influenciou sua forma de escrever sobre filme brasileiro, você tenta se conter um pouco mais?

Eu nunca teria problema com escrever agressivamente sobre filmes porque, na época em que eu morei na Inglaterra e comecei a me interessar muito em ler críticas, as críticas lá são bem… Aquilo estabeleceu a linha: “ah, isso aqui é o tipo de coisa que você pode fazer, ou deve fazer, se você conseguir fazer de uma maneira que você acha que é bem feita”. O grande problema pra mim é que eu sou realizador, então às vezes eu tô me vendo me policiando no sentido de… eu deixei de escrever sobre curta, por exemplo. Não faz sentido mais escrever sobre curta. Fazer uma crítica negativa de um curta que daqui a um mês vai estar com um filme meu, eu vou tomar café da manhã com o cara no hotel… A gente tá no mesmo… não é mais crítico e cineasta, é crítico/cineasta e cineasta. Não é só um mal estar, é que é desleal, não faz sentido. E eu acho que quando eu fizer o meu longa eu vou parar de escrever sobre longa brasileiro. Posso até continuar escrevendo sobre cinema mundial, mas longa brasileiro é complicado.

Crítico [documentário realizado por Kleber] tratava um pouco disso.

É um filme sobre rejeição e aceitação, mas o foco é realizadores e críticos. É o principal ponto de conflito. Às vezes há um despreparo muito grande do outro lado pra entender que é possivel um texto como aquele ser publicado sobre um filme. Eles [os realizadores do filme] agiram como se fosse a primeira vez na história da humanidade que pessoas legais estavam sendo atacadas pelo que elas gostam de fazer. Isso me impressionou muito. Como você ir jogar futebol e ficar chocado que alguém vai dividir a bola com você. Como assim?

Ou até dar um carrinho mesmo.

Um carrinho leal, porque tem carrinhos que são desleais. Eu acho que tudo isso vem de um país que a opinião… a opinião é ainda uma coisa muito estranha no brasil. Eu fico fascinado com esses reality shows que estão acontecendo. Tem um chamado Top Chef, é excelente. E outro que é America’s Next Top Model [ANTM]. Esse ganhou uma versão brasileira. E é muito estranho porque a tv brasileira é esterilizada completamente de opinião. Ninguém dá opinião, você não ouve opinião, ninguém tem opinião sobre nada. Eu tenho até amigos que trabalham no Telecine, HBO, Canal Brasil, e todos eles recebem orientações específicas de não emitir opinião nenhuma e nenhum entrevistado pode dar opinião sobre nada. Ou seja, tudo é só fato e coisas engraçadas e legais e bacanas sobre o cinema. E o ANTM é um programa onde as opiniões sao o coração do programa. Você pega uma modelo e um painel de pessoas vai dizer o quanto ela fez aquilo certo ou errado. Eles destroem a pessoa. Na versão brasileira é engraçado ver os brasileiros tentando lidar com isso pela primeira vez. Você vê que eles não sabem, as opiniões não são muito bem calibradas, porque eu acho que no geral falta o exercício da opinião no Brasil. A Globo é construída toda em cima da falta de opinião. Você vê o Jô Soares, que é tido como um tipo de inteligência no Brasil, não fala nada com nada. As perguntas dele são vazias, o cara é um zero. O choque [dos realizadores que se ofenderam] com aquela crítica foi um pouco por aí, não chegaram nem no nível de rebater.

Hoje existem centenas de sites e blogs de crítica de cinema e parece que todo dia surge mais um. Isso é sempre bom ou acaba levando a uma saturação?

Eu acho que tudo é bom, porque no final das contas chega uma coisa chamada peneira, a peneira natural das coisas, e aí vai ficar naturalmente o que é bom. É feito produção de cinema digital. “Você acha bom?” Acho. “Qual o problema?” O problema é que serão realizadas 300 porcarias e só 33 serão realmente boas. Mas isso é bom porque talvez, se não tivesse 300, você não teria 33, teria 4. É o preço que você tem que pagar. E quando você lê alguma coisa que é boa na internet, talvez você volte lá na semana que vem. Isso vira um hábito.

Com o trabalho como crítico e como programador, você sente que influenciou uma geração de frequentadores de cinema, a que vai no Cinema da Fundação hoje?

Eu espero que sim. Eu acho que é inevitável isso. A gente só exibe os filmes que a gente gosta, é assim que a gente exibe os filmes na Fundação. Às vezes eu passo um filme que eu pessoalmente não gosto, mas acho que deve ser exibido. Mas é muito raro, aconteceu não mais do que cinco vezes em 10 anos. Garota com Brinco de Pérola, por exemplo, que é um filme que nem vai nem vem. Eu não lembro dos outros, mas aconteceu algumas vezes.
Se você colocar um filme bom, as pessoas vêm ver. E às vezes você coloca um filme bom que ninguém sabe que é bom, algumas pessoas vêm ver e elas espalham pra outras pessoas. Os filmes do Cassavetes não atraem muito público, mas os 500 ou 600 que vêm ver, eles saem mudados. Outra coisa que facilita muito é que não existe nenhuma pressão comercial nesse cinema, ninguém ganha dinheiro de bilheteria aqui, a Fundação não precisa de bilheteria e isso faz com que você possa colocar qualquer coisa. É claro que é bom ver a sala cheia, mas a gente sabe que alguns filmes não vão encher a sala. Paranoid Park mesmo foi um filme que não teve um grande público, mas quem viu o filme saiu impactado. Esse estofo que você coloca é importante pra criar uma identidade pro cinema. Se você deixar, o mercado faz a programação por você. Já teve distribuidora ligando só pra marcar a data, nem perguntavam se a gente tinha interesse. Existe um certo retorno pessoal que você ouve no corredor de filmes que marcaram certas pessoas. Você tem que trabalhar com uma média, não pode levar em consideração tudo que você ouve. Na mostra de 10 anos [do Cinema da Fundação] teve uma mulher que veio reclamar que tava passando um filme sem som: O Encouraçado Potemkin. Aí você tenta explicar pra ela, dá as costas e vai embora. Você não pode pular no pescoço dela, dar duas tapas na cara dela.

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O site de Kleber, CinemaScópio, com o arquivo da maioria de seus textos, está atualmente fora do ar, em reconstrução. Algumas de suas críticas podem ser lidas aqui e aqui.

Já os curtas que ele realizou podem ser vistos no Porta Curtas. Recomendo especialmente Recife Frio e Vinil Verde.