She needs help she needs help she needs help she needs heeeeelp


Na semana passada terminou o IV Janela de Cinema do Recife. Segundo relatos confiáveis, é o melhor festival de cinema do mundo, depois de Cannes. Eu nunca estive lá, mas um festival que traz uma retrospectiva Kubrick em película merece ser respeitado.

Acompanhei pelo FEICE o alvoroço dos amigos indo ver uma cópia rara de O Iluminado (“com trinta minutos a mais!”). Aí alguém postou uma das 37 imagens clássicas do filme:

E a pergunta veio: que fim levou Shelley Duvall? Ela era uma das musas da minha infância (depois dessa informação minha analista finalmente entendeu o caso grave que eu era). Muito antes de eu saber da existência de O Iluminado, ela já me assustava apresentando Contos de Fada na TV Cultura. Além disso, acho que eu era a única criança que realmente gostava da versão de Robert Altman pra Popeye, de onde saiu esse clássico do cancioneiro popular:


Aliás, a estreia dela no cinema foi com Robert Altman, em Voar é com os Pássaros. O segundo filme dela foi com Robert Altman. O terceiro filme dela foi com… Robert Altman. O quarto filme dela, adivinha com quem foi? Robert Altman. O quinto filme dela, alguém arrisca com quem foi? Robert Altman! Agora o sexto filme que ela fez foi com um diretor genial chamado

ROBERT ALTMAN.

Mas antes que vocês achem que ela era uma loser completa e só Robert Altman queria trabalhar com ela, saibam que por esse sexto filme, Três Mulheres, ela ganhou Melhor Atriz no Festival de Cannes, OK? E aí ela DESPONTOU PARA O ESTRELATO, e o sétimo e o oitavo filmes dela foram Noivo Neurótico, Noiva Nervosa e O Iluminado. O nono filme foi de novo com Robert Altman, justamente Popeye, e aí acho que ele traumatizou com Olívia Palito e nunca mais chamou a coitada pra trabalhar de novo com ele.

Depois disso ela não fez mais nada digno de nota (à exceção desse curta-metragem de Tim Burton). Em 2002, viu que a vida não estava sendo fácil e decidiu se aposentar. Foi-se embora de vez morar na beira duma estrada no fim do mundo (aka Blanco, Texas) mas ainda com esperança de que a chamassem pra fazer alguma coisa. Só que 2012 veio seis anos antes pra ela: Robert Altman morreu. Era o fim da aventura humana na Terra.

Na Terra, eu disse. Shelley Duvall não é brasileira, mas também não desiste nunca. Não tá rolando aqui na Terra, vamo simbora procurar no espaço sideral. Segundo aquele jornal bem confiável, o National Enquirer, ela fica toda noite piscando o farol do carro, tentando se comunicar com alienígenas. E acredita que um buraco no quintal dela é um portal pra outra dimensão. Ainda segundo o Enquirer, ela passa dia e noite morrendo de medo que algum ET venha buscá-la; ou seja, ela é igual a eu, você e todos nós: não sabe o que quer. Vocês podem achar que ela é doida, mas eu acho digno esse final de carreira. Triste mesmo seria ela ir no programa da Sônia Abrão pedir emprego.

Depoimento de um vizinho: “Shelley fica vagando sozinha pela cidade, toda malamanhada, estranha e, pra ser franco, bem louca. Fica murmurando uns negócios e falando que tem um monte de alien dentro do corpo dela“. Ou seje, já que ninguém chama ela pra fazer nada, ela resolveu fazer teatro de rua, essa deve ser a continuação de O Iluminado.

Como o National Enquirer é um jornal sério, ele só ouviu os vizinhos. A primeira entrevista que Shelley Duvall deu em mais de dez anos foi pra um site horroroso, mas que tem umas entrevistas ótimas com atores e diretores de filmes B, chamado Mondo-Video. Trechinhos da entrevista:

Shelley, que tipo de criança você era?

Nossa, eu era um terror! Eu saía correndo pela casa derrubando tudo, mesa, cadeira, o que eu via pela frente. Minha mãe me deu o apelido de MANIC MOUSE. Na época eu não entendi, mas anos depois a gente riu muito disso.

Eu li na internet que alguém próximo de você disse recentemente que achava que você tinha se tornado meio “reclusa”. Como você se sente sabendo disso, e o que você tem a dizer sobre?

Eu não diria que eu me tornei reclusa, se você googlar o significado parece muito pior! Eu apenas tirei um tempo pra mim. Eu atuei durante mais de 35 anos, isso desgasta muito. Eu precisava de um tempo pra mim, e eu tenho adorado isso! As pessoas acham que eu me isolei, que nunca saio de casa e não me comunico com o mundo lá fora, isso não é verdade. Um amigo me botou no Facebook e é incrível a quantidade de gente que se comunica comigo, fãs do mundo todo. É ótimo falar com todo mundo, saber que as pessoas ainda apreciam e amam seu trabalho é um puta astral!

Sou reclusa não, tô no feice!

Não achei o feice dela, tudo me pareceu ser fake. Mandei um e-mail pro Justin Bozung, que fez essa entrevista com ela (JORNALISMO INVESTIGATIVO), e ele disse que ela era ótima, que manteve contato com ela um tempo, mas aí o computador dele deu pau e ele perdeu o telefone dela. Ah, e ela TROCOU DE E-MAIL. Super sociável.

Eu acho uma pena que ninguém chame Shelley pra trabalhar, acho ela genial. Acho que hoje em dia não tem mais diretor com culhão de chamar uma mulher tão doida pra fazer filme. Talvez Tim Burton, mas ele já tem que dar conta de Helena Bonham Carter. Ou Lars von Trier, mas esse aí só quer filmar cas gostosa. Fica aqui o apelo. Shelley, seu nome jamais será esquecido. Ainda mais com você nos ajudando assim: