Former child star

Alguns dias atrás, a Folha de S. Paulo publicou uma matéria falando que a Globo planeja acabar com a Sessão da Tarde. Junto vinha um texto meio bonito falando do significado da Sessão da Tarde pras crianças. Pra mim, que sou nostálgico que só a porra, Sessão da Tarde me lembra sempre pão francês com ketchup, que era o lanche de quase todos os meninos da minha idade no prédio em que eu morava. Depois dos 10 anos, nunca mais comi pão francês com ketchup, e revi pouquíssimos filmes que via nessa época. Com certeza acharia horrível tanto o pão francês quanto os filmes – parei de querer reassisti-los depois que inventei de rever A História sem Fim e achei o pior filme do mundo (na minha memória era sensacional).

Meus grandes clássicos da Sessão da Tarde (mais até que Curtindo a Vida Adoidado) são Goonies e Conta Comigo. Os dois têm Corey Feldman no elenco. Quando eu era pequeno, achava que podia um dia ser amigo dele, assim como eu tinha certeza que um dia faria parte da Turma da Mônica. Corey não era o meu preferido, esse posto era de Macaulay Culkin, mas eu sabia que Macólei estava distante demais de mim. Corey era um amigo possível.

Pois bem, na semana passada foi lançada a autobiografia dele, que certamente estará nas listas de fim de ano na categoria Pior Trocadilho: Coreyography. Eu li. É um livro bem mal escrito, podia ser publicado em capítulos pela People e depois traduzido na Contigo, ou seja, é maravilhoso. Pra quem é saudosista mas não tem saco de ler 280 páginas de má literatura, fiz um resumo daqueles que o Wikipédia colocaria um monte de observação dizendo que não é confiável, que falta citação, que se você puder ajudar por favor o faça.

Corey Feldman era o ator mirim (acho “mirim” uma palavra tão esquisita) mais famoso dos anos 80, mais que River Phoenix e bem mais que o outro Corey, o Haim, que fez dupla com ele em Os Garotos Perdidos e Sem Licença pra Dirigir (e depois acho que outros três filmes tipo made-for-tv). Depois de fazer uma caralhada de comercial, Corey passou no teste pra fazer um amigo de Elliott em E.T.. Mas o roteiro mudou de repente, o personagem caiu, Corey ficou mal e Spielberg, bonzinho como sempre, disse que ainda ia trabalhar com ele. Cumpriu a promessa e chamou Corey pra fazer Gremlins.

gremlins-corey-feldman-gizmo
Spielberg curtiu Corey e o chamou pra fazer Goonies (Spielberg ia dirigir, mas depois ficou só na produção executiva).

goonies1
Aí pronto, Corey já podia sair da asa de Spielberg e emendou esses dois com Conta Comigo e Os Garotos Perdidos. Quatro hits em três anos.

Conta ComigoLost-Boys

Como acontece com rigorosamente todas as crianças famosas, sucesso = ~vida real~ infernal. Quando ele tinha quatro anos anos de idade, a mãe (uma ex-coelhinha da Playboy) pintava o cabelo dele enquanto gritava “seu merdinha! Por que você não nasceu loiro??”. A mãe escondia todas as comidas e só o alimentava (pouco) quando ela acordava, às três da tarde, já cheiradona. A mãe não deixava ele sair de casa. A mãe batia nele com esses paus de segurar janela.

Aí Corey cresceu, ficou adolescente, conseguiu se livrar da mãe. Porém, entrou para o mundo das drogas.

Infelizmente, é justamente aí que começa a parte chata do livro, uma pregação sem fim, não tem uma história divertida sequer. Corey consegue a proeza de fazer com que uma festa com 50 pessoas destruindo um quarto de hotel, se comendo e se drogando, seja algo extremamente tedioso. De qualquer forma, eu consegui salvar três highlights no livro:

– Ele “namorou” Drew Barrymore. Quando ela tinha 10 anos e ele 14. Segundo Corey, ela ligou pro escritório de Spielberg pra conseguir o telefone dele. Um ano depois, AOS ONZE, ela cheiraria a primeira carreira de cocaína & viraria alcoólatra. Best Achievement in Punk Rock, e vai ganhar um post pra ela daqui a pouco.

– O elenco de Goonies enchia a cara sem dó. O ator que fazia Sloth um dia bebeu tanto que mijou na pia de um restaurante.

– Corey Haim deu em cima dele quando ambos tinham 15 anos. A descrição é maravilhosa:

“Look at my dick, dude. It’s hard as a rock.”
I went to the fridge to get myself a soda (N. do E.: HAHAHAHAHA). “That’s great, man. I don’t need to see your dick”.
“I’m just showing you because this is how frustrated I am right now. I just want to get laid. Is that really such a bad thing? Is that really such a big deal?”
Before I even realized what was happening (N. do E.: ahã, claro), he started in with, “Hey, why don’t we just mess around, why don’t we just touch each other?”

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Mesmo com esse approach sensacional, Feldman não aceitou. E aí vem a grande passagem altamente sublinhável do livro:

“I was shattered, disgusted, devastated. I needed some normalcy in my life. So, I called Michael Jackson.”

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Sim. Corey Feldman foi quem iniciou o hype dos amiguinhos criança de Michael. Corey ficou completamente obcecado por Michael, se vestia igual a ele (se veste até hoje), os dois ficavam no telefone a madrugada inteira etc. e tal, mas Corey jura até hoje que não rolou nada.

Mesmo depois da morte de Michael, a obsessão continua. Corey saiu da fase luva, jaquetinha, brilhos e chapéu e agora entrou na fase freak mesmo. Esse vídeo aqui é de uma entrevista que ele deu semana passada pra promover o livro. Igualzinho ao Michael dos últimos 10 anos.

Triste. Talvez eu devesse parar de querer procurar respostas pra “por onde anda fulano de tal?”, mas eu não consigo, é mais forte do que eu. E aí vou maculando minhas memórias infantis, uma por uma. :~

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